quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Amor INTERMEDIÁRIO


Para: D’ara

Muitas vezes os caminhos da vida nos conduzem a um lugar não muito agradável... Eu caminho por lugares que não gostaria... Eu caminho e ninguém me conhece, ninguém me cumprimenta neste caminho...
Agora aqui, neste entre lugar, eu apenas sou palavras, sou apenas sentimentos, sou apenas lágrimas.
Odeio essa tristeza em mim, odeio essa condição internalizada que como diz uma amiga e professora me impedem de aproveitar as bordas, o que está à margem da minha existência... Fico preso ao meu interior triste e impaciente.
Sou jovem? Sim.
Sou bonito? Sim.
Sou saudável? Sim.
Sou feliz?
Essa questão, não sei responder.
Falta léxico para formar essa sentença, falta coragem para fazer acontecer, falta amor próprio também.
Às 23h34 de um dia qualquer encontrei no ônibus alguém que gostei muito e que posso definir como um amor intermediário. Aquele tipo de amor que surge depois dos amores da infância e antes do grande amor da sua vida. Amor que é junção de hormônios da adolescência e anseios por uma vida adulta.
Seu rosto estava cansado com pequenos sinais do tempo, ela certamente estava voltando do trabalho. Seu corpo também não era o mesmo depois da gravidez ela engordou um pouco. Seu cabelo cresceu era tão curto e agora está longo, pude perceber devido ao grande coque no alto de sua cabeça, coque que era coberto por uma redinha com laço.
Sei que ela me viu, estava no banco de trás do ônibus e este não estava cheio. Era possível visualizar todos os rostos logo assim que rodasse a roleta, mas ela preferiu me ignorar, certamente seria mais fácil. É sempre difícil encarar alguém que um dia você se apaixonou, faltam palavras e as perguntas cretinas do tipo “como você está agora?” ou “já casou?” são inevitáveis.
Por falar em perguntas eu nunca tive coragem de perguntar se ela também me amava. Um dia era especial o outro também, estávamos juntos e eu ali bem infantil nas coisas do coração sem imaginar que aquele coração batia por mim. Eu a perdi. Cantei em seu casamento, a vi ter o primeiro filho, a vi construir sua família... Depois de longo tempo, agora neste momento me pergunto seriamos felizes? Mas, nunca terei essa resposta.
Esse amor intermediário, hoje saudades, lembranças e memórias me faz ver e confirmar o quanto sentimentos tido como menores são importantes... Talvez ali nos braços de D'ara eu tivesse me encontrado e nunca me enganado. Talvez nos braços de D'ara eu não tivesse me entregado ao passado, ao grande amor do passado finado. Talvez. Vou caminhando em suposições.
Certa vez ouvi uma pessoa me dizer que quando você começa a lembrar dos amores que viveu é um sinal que você está esquecendo a história que outrora era mais marcante. Se for verdade percebo que tudo está caminhado para o esquecimento pleno de um amor, de um grande amor não consumado. Agora me recolho mais uma vez, machucado ao relembrar, ao ver a vida que seguiu e os meus amores que se foram...
Ainda estou na parte interna de mim... Ainda não consegui alcançar as bordas e aproveitá-las... Sou prisioneiro meu, sou passageiro querendo saltar de um ônibus que passa por todas as paradas e recebe delas todos os tipos de pessoas, feias e bonitas, ricas e pobres, felizes e infelizes. Sou o amor intermediário de uma mulher que um dia sonhei que seria minha, sou amor intermediário querendo ser grande... Querendo não ser mais um nesse ônibus da Vida.
Sérgio Breneditt



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