quarta-feira, 25 de abril de 2012

Querido Diário


Hoje conheci o Ricardo. Ele é um cara muito bonito que encontrei na balada, sabe, eu estava muito distraída procurando alguém para pegar quando do nada o vi. Alto, olhos verdes, cabelos dourados e com uma condição legal.
De algum modo meu coração sabia que ele seria meu. A música, as pessoas distraídas, os vários drinks que ele tomava nos aproximava mais e mais.
Cheguei perto, ele não me viu, pude sentir seu perfume amadeirado em meio ao cheiro dos cigarros e da bebida. Que homem lindo ninguém o notara somente eu.
O primeiro toque foi quando ele tirou da jaqueta uns comprimidos. O beijo foi depois que ele terminou de ingerir todos eles com vodka.
Mas, Diário, o auge do nosso encontro foi quando ele caiu aos meus pés tendo uma overdose. Senti o seu corpo no meu, o envolvi em meus braços e aí... Eu fui a mulher mais feliz da balada.

Com Carinho
Morte

Sérgio Breneditt

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Naqueles Dias - Carnaval


Quando ergueu a cabeça, após contemplar em silêncio os pés daquele que lhe dizia, ele percebeu não importava mais.

Já não havia o querer de correr para aqueles braços... Não havia o querer.

Seu coração sentia uma leve e continua dor, misto de magoas e desilusões... Ele saiu... O tempo passou...

Perdeu-se a vontade de continuar com aquele enredo foi aí que a Whitney Houston se calou... Não era mais necessário o I have nothing, nem Run for you, tampouco o I will always love you. Era o fim daquele I belive you and me.

No entanto, a brisa do mar daquela madrugada, o cheiro de um cigarro de maconha e as diversas pessoas em suas diversidades sexuais se amando ali o fizeram contemplar seu antigo pesar.

Sua amiga já havia lhe dito o quanto ele precisava chorar, sofrer, lamenta aquela perda, mas... Impossível, chorar não conseguia... Nunca conseguiu.

Ele lembrava e relembrava. Ansiava por um toque qualquer, semelhante, simples... Um toque humano. Sentou-se diante do reino de Yemanjá, seu all star verde afundou na areia, fechou os olhos e dormiu.

Alguém tocou em seu ombro, seu amigo regressava de um momento de intimidade dizendo “Cara, é hora de voltar para casa.” Ele ergue a cabeça contemplou em silêncio aquele local e percebeu era apenas o primeiro daqueles dias de carnaval.

Sérgio Breneditt


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Meu Presente de Natal



O presente que eu quero...
Tem o frescor de banho de manhã e perfume de sabonete.
Tem cabelo molhado com cheiro de xampu de algas marinhas.
Tem o sabor de pão com manteiga e café com leite.
Tem alegria de mil sorrisos, aconchego de abraço no frio e beijinhos no cinema com cara de fruto proibido.
O presente que eu quero...
 Tem fotografias com a cabeça torta tiradas com o celular...
Têm mais de cem amigos no facebook, ama a lua e a madrugada, mas adora dormir na praia, ver o sol e pescar.
O presente que eu quero...
 Toca violão ou sabe cantar, escreve poesias, canções, sabe fazer bolo e tem preguiça de esquentar a comida no fogão.
Tem o quarto bagunçado dessas bagunças organizadas onde se sabe onde estão as coisas.
Ama os livros, mas também joga no computador e viaja lendo blogs na internet.
O presente que eu quero...
Escuta MPB, mas também se alegra com o som do Patatí e do Patatá.
Tem bom humor, gosta de crianças até os cinco anos, mas se irrita com crises de adolescentes.
Quer ter dois filhos, um cachorro e gato...
O presente que eu quero...
Quer uma casa de inverno, uma casa de verão e um carro pago a prestação.
Tem cartão de credito, ama DVDs e faz cafuné...
Ora antes de dormir e chora vendo final de novela na TV.
O presente que eu quero tem coragem para dizer sim, ousadia para dizer não e um coração enorme para dizer Eu te amo.
O presente que eu quero é especial...
É único e será meu, só meu.
O presente que eu quero...
Será tudo, todo dia será...
Será humano, lindo, sagrado e terá um nome incrível...
Se chamará “Meu Amor”.

Sérgio Breneditt


sábado, 26 de novembro de 2011

Sendo Triste

Por que você é tão triste? 
Mais uma daquelas perguntas feitas a ele...
Não sabia responder.
Sua alegria aparente, usada como máscara, caiu por terra, ali diante de todos.
Ninguém sabe por que é triste. Ele é triste e às vezes é feliz, um cara mutável... Talvez culpa do signo, das convenções astrais, da posição da lua no dia do seu nascimento... Não se sabe, saber pra quê?
Ser feliz o tempo todo deve ser muito chato, afinal gente triste escreve melhor, canta melhor, compõe e interpreta melhor, ama melhor, ama mais...
A melancolia é incenso – perfuma.
É neblina – dá um clima.
A melancolia é tristeza, é poesia, é ele...
Ser triste é o lance dele. É um pouco mais dele.
Na verdade, eu acredito que ele é feliz sendo triste.


Sérgio Breneditt

domingo, 30 de outubro de 2011

Reencontro


O que dizer quando te reencontrar?

Dizer que tive saudades?
Dizer que encontrei alguém?
Dizer que está tudo bem?


O que dizer quanto te reencontrar?
Que não consigo te esquecer?
Que penso em você todos os dias, após esses quatro anos?
Que eu não consegui encontrar alguém como você?

O que dizer quando te reencontrar?
Como você está bem?
Como está sua família?
Como está seu trabalho?


O que dizer quanto te reencontrar?
Posso te abraçar e não dizer nada?
Posso correr e não dizer nada?
Posso te beijar para que ambos não digam nada?


O que dizer quando te reencontrar?
...
Vou arrumar forças dentro de mim para conseguir olhar nos seus olhos.
Vou respirar fundo e interpretar meu melhor sorriso.
Vou me colocar em sua frente e te dizer: — Oi!
Mas, gritando em meu coração: — Ainda te amo, volta pra mim!
É o que farei...

É o que fiz hoje...
Quando te reencontrei.

Sérgio Breneditt

sábado, 29 de outubro de 2011

Cotidiano: Depois da Balada




O que eu faria por amor?
Ele se perguntou essa manhã quando caminhava pelas ruas do centro do Rio...
Ultimamente...
O amor tem sido uma noite longe da família, nos braços de desconhecidos com cheiros diferentes e hálitos de sabores variados como: uva, hortelã e morango.
O amor tem sido uma boate escura com muita fumaça, corpos suados, cigarros, cervejas e drag queens.
O amor tem sido olhar a cidade acordar enquanto volta para casa para dormir.
Tem sido cochilar de boca aberta no ônibus e tampar a cabeça com o capuz da camisa para tentar escurecer o longo caminho.
O amor tem sido o banho quente, o ar-condicionado ligado e deitar de cueca em baixo do edredom com inscritos em japonês.
O amor tem sido aguardar ansioso o barulho da janela do MSN chamando para conversar e combinar como será a próxima noite.
O amor tem sido assim, pensava ele e responder essa questão seria difícil demais, afinal já fizera de tudo por amor... Fez poesias e enviou cartas de cinco páginas escritas a mão com cheiro de perfume e marca de lágrimas.
Ele já tinha feito serenata, cantado jazz e tocado piano... Já tinha dormido na calçada para ver de madrugada seu amor ir trabalhar.
Fez oração para Deus e a todos os santos para proteger o seu alguém, a sua metade avessa. Jogou flores ao mar e acendeu incenso ao vento para perfumar de longe o caminho de quem chamou de amor com fluidos de boa sorte e harmonia. Fez de tudo... No carro e até de joelhos, mas...
O que ele faria por amor? Ele jamais saberia responder. No entanto, o que ele faria com o amor?  Isso eu sei que ele sabe bem... Ele seria o homem mais feliz do mundo.

Sérgio Breneditt

domingo, 23 de outubro de 2011

Linhas Soltas

Se alguém te amar mais que eu juro que te deixo imediatamente.
Se alguém te desejar mais que eu me entrego ao celibato.
Se alguém desejar sua presença mais que eu juro que me mantenho aqui na nossa solidão... 
Esperando.

Sérgio Breneditt



quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A Louca II - Aprendendo...


Quando o amor de sua vida foi procurar o amor da vida dele, ela se tocou. Pediu ao garçom um drink feito com pêssego e vodka para começar a noite e acendeu seu primeiro cigarro Black. Ela estava em um bar medíocre na Lapa acompanhada por bêbados e desiludidos, mas em momento algum ela questionou a qualidade do local.
No jukebox, ao fundo, um rapaz ouvia Bonie Tayler e cantava o refrão de Total Eclipse of the Heart com empolgação enquanto uma garota negra sentava no colo de um americano sessentão. O celular rosa e com um enfeite de coração, vibrava sobre o balcão, mas ela não atendia já sabia era sua mãe.
Uma nova dose, dessa vez a vodka era pura e o cigarro era Free, daqueles baixos teores, que uma lésbica ofereceu. A lésbica dizia que ela era bonita e sensual, dizia que ela não deveria ficar triste, dizia isso passando a mão nos cabelos longos e loiros dela.  Ela não se mexia de algum modo o toque daquela outra mulher a confortava.
Sua mente lembrava a noite que esteve nos braços dele era como sentir de novo o peso do corpo do seu homem sobre o seu, ela se excitou... A lembrança do perfume, do entrelaçamento, dos movimentos contínuos, penetrantes e intensos... Lembranças da noite de lua nova ao som de Madonna.
 A mulher que ofertou o cigarro sorvia seu vinho branco com se de algum modo pudesse haurir a loira sexy e triste no balcão.  Outras músicas já haviam tocados, afinal ela estava ali há horas, mas uma especial a fez levantar e entrar na pequena pista de dança. A letra dizia  “I gave you all the love I got I gave you more than I could give I gave you Love...” 
Seus passos foram acompanhados pelos olhares atentos dos homens, afinal quem era aquela mulher tão sensual capaz de atrair para si as notas da canção? A música era dela e uma atmosfera de sentimentos invadiu o medíocre bar transformando o espaço em um templo do novo. Os homens a contemplavam, mas foi uma mulher que a seguiu...
Meu chamo Pérola disse a mulher segurando sua cintura e abraçando-a fortemente conduzindo seus passos na dança romântica... Beijos na nuca, curiosos atentos, luz e fumaça faziam o toque feminino muito terno, agradável e luxurioso. “This is no ordinary love” cantava Sade de um modo inconfundível.
Nesse clima ela para de pensar nele. A canção de amor trazia uma lembrança, mas o misto desta com a nova sensação mudava tudo... Era diferente... Era Sade...  Era amor novo... Era mais um lado louco daquela mulher, lado que ela não conhecia era um novo beijo, era um novo perfume... Era a Louca aprendendo a ser outra...
Sérgio Breneditt

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Amor INTERMEDIÁRIO


Para: D’ara

Muitas vezes os caminhos da vida nos conduzem a um lugar não muito agradável... Eu caminho por lugares que não gostaria... Eu caminho e ninguém me conhece, ninguém me cumprimenta neste caminho...
Agora aqui, neste entre lugar, eu apenas sou palavras, sou apenas sentimentos, sou apenas lágrimas.
Odeio essa tristeza em mim, odeio essa condição internalizada que como diz uma amiga e professora me impedem de aproveitar as bordas, o que está à margem da minha existência... Fico preso ao meu interior triste e impaciente.
Sou jovem? Sim.
Sou bonito? Sim.
Sou saudável? Sim.
Sou feliz?
Essa questão, não sei responder.
Falta léxico para formar essa sentença, falta coragem para fazer acontecer, falta amor próprio também.
Às 23h34 de um dia qualquer encontrei no ônibus alguém que gostei muito e que posso definir como um amor intermediário. Aquele tipo de amor que surge depois dos amores da infância e antes do grande amor da sua vida. Amor que é junção de hormônios da adolescência e anseios por uma vida adulta.
Seu rosto estava cansado com pequenos sinais do tempo, ela certamente estava voltando do trabalho. Seu corpo também não era o mesmo depois da gravidez ela engordou um pouco. Seu cabelo cresceu era tão curto e agora está longo, pude perceber devido ao grande coque no alto de sua cabeça, coque que era coberto por uma redinha com laço.
Sei que ela me viu, estava no banco de trás do ônibus e este não estava cheio. Era possível visualizar todos os rostos logo assim que rodasse a roleta, mas ela preferiu me ignorar, certamente seria mais fácil. É sempre difícil encarar alguém que um dia você se apaixonou, faltam palavras e as perguntas cretinas do tipo “como você está agora?” ou “já casou?” são inevitáveis.
Por falar em perguntas eu nunca tive coragem de perguntar se ela também me amava. Um dia era especial o outro também, estávamos juntos e eu ali bem infantil nas coisas do coração sem imaginar que aquele coração batia por mim. Eu a perdi. Cantei em seu casamento, a vi ter o primeiro filho, a vi construir sua família... Depois de longo tempo, agora neste momento me pergunto seriamos felizes? Mas, nunca terei essa resposta.
Esse amor intermediário, hoje saudades, lembranças e memórias me faz ver e confirmar o quanto sentimentos tido como menores são importantes... Talvez ali nos braços de D'ara eu tivesse me encontrado e nunca me enganado. Talvez nos braços de D'ara eu não tivesse me entregado ao passado, ao grande amor do passado finado. Talvez. Vou caminhando em suposições.
Certa vez ouvi uma pessoa me dizer que quando você começa a lembrar dos amores que viveu é um sinal que você está esquecendo a história que outrora era mais marcante. Se for verdade percebo que tudo está caminhado para o esquecimento pleno de um amor, de um grande amor não consumado. Agora me recolho mais uma vez, machucado ao relembrar, ao ver a vida que seguiu e os meus amores que se foram...
Ainda estou na parte interna de mim... Ainda não consegui alcançar as bordas e aproveitá-las... Sou prisioneiro meu, sou passageiro querendo saltar de um ônibus que passa por todas as paradas e recebe delas todos os tipos de pessoas, feias e bonitas, ricas e pobres, felizes e infelizes. Sou o amor intermediário de uma mulher que um dia sonhei que seria minha, sou amor intermediário querendo ser grande... Querendo não ser mais um nesse ônibus da Vida.
Sérgio Breneditt